domingo, 29 de janeiro de 2012

Romance de Quem Espera...

Bira Lopes



Chegou num tranco macio
De um rosilho requeimado
Um jeitão de touro alçado
Campeando cheiro de cio.

Pele curtida de frio,
Do sol, da fumaça e vento
Tendo pra seu sustento
a doma por profissão,
e um olhar de gavião
de ler ate pensamento.

Eu recém florescendo
Pra nostalgia do mundo,
Mas aquele profundo
Aos poucos foi me envolvendo
E de amor fui me perdendo,
Me perdendo e me perdi...
Mais nunca me arrependi
Pois me entreguei por amor,
E a final o domador
Foi ficando por ali.

E o nosso amor criou cerno,
Criou raiz, floresceu
e assim tanto quanto eu
enquanto dure é eterno.

Mas quando finda o inverno
E rebrota a primavera,
a potrada esta na espera
em tudo quanto é fazenda,
e nos ranchos ficam as prendas
pra não virarem tapera.

Mais uma vez fico só
Bombeando a janela,
O rangido da cancela.
Na estrada, só o silêncio e o pó.
Na minha garganta um nó
Que segura o meu grito,
Olhar preso no infinito
E uma conclusão de vida:
Se não fosse a partida
Era tudo mais bonito.

No entanto ficam lembranças
habitando o pensamento,
de bons e lindos momentos
de amor, sonho, esperança...
E de um coração que não se cansa
de amar e esperar.

Nunca o pedi pra ficar
Porque sei que o domador
Tem um sonho caminhador,
Que nunca há de domar.

E não é justo que alguém
Mude sua sina de andejo,
Embora que o meu desejo
Fosse segura-lo bem.

Pois cada dia que vem
bombeio para o caminho,
da janela do meu ninho
pra vê se enxergo um rosilho
trazendo sobre o lombilho,
o dono dos meus carinhos.

E quase me escapa um pranto
Ao ver a estrada vazia...
Caramba eu não sabia
Que a saudade doía tanto.

E o que mais me causa espanto
ao cair na realidade,
pois, ora! Sentir saudade
do calor de uma carcaça,
que a frio, a sol e a fumaça
se fez homem de verdade.


Talvez “tai” a resposta,
“tai” a explicação:
Amor, verdade, razão
É disso que uma mulher gosta,
Não promessas nem propostas
Nos poluindo a consciência
é preferível a ausência,
do que a presença só de um nome
e homem pra ser bem homem,
tem que honrar a querência.

E tudo isso que falo,
é em nome do coração
Pois me cobri de paixão
Quando lhe vi de acavalo.
Mãos fortes, grossas de calo,
Perfeita pra um afago.
Um semblante de índio vago
E um coração “mui” roceiro,
que anoiteceu no potreiro
e amanhece em outro pago.

E assim bombeando a porteira,
vou cultivando a saudade
Pois quem ama de verdade
Espera uma vida inteira.
Essa é a paixão verdadeira,
Ser fiel durante a ausência
Quem não tem essa consciência
Não tem fibra de mulher,
porque quem  sabe o que quer
tem coragem e persistência.

Mas quando chegar o outono,
e as domas se apoucarem
e os domadores voltarem
cada vez mais entono,
há de vir também o dono
daquele sorriso largo!

Vou lhe esperar com o amargo
e uma comida caseira,
fogo grande na lareira
e um catre para o afago.
Então passarei o inverno
Sorvendo o seu sorriso...
É como entrar no paraíso
Depois de cruzar o inferno.
Então há de ser eterno
Enquanto dure esse amor.

As garras do domador
Dependuradas num gancho,
e pastando envolta do rancho
um rosilho tranqueador.


2 comentários:

  1. Olá, Ana!!
    Usei essa imagem em uma postagem de meu blog e vim buscar o seu autor, não encontrei para colocar os créditos mas cheguei até essa linda poesia. Q coisa!!! A poesia que escrevi tb é sobre espera e por isso a imageme coube tão bem.
    Adorei esse seu espaço, ainda vou olhá-lo melhor.
    Gostaria de receber tua visita em meu espaço tb.
    Um grande abraço. Fica com Deus.

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  2. Gracias que bom que gostou, também não consegui achar o autor desta dela imagem porque peguei no google mesmo. Com certeza vou olhar o seu ;) ... Grande Abraço

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