sábado, 18 de fevereiro de 2012

Em Teus Braços...♫

Jairo Lambari Fernandes



Há tempos que carrego esta saudade
Domingueira bem querença
Pra florir rancho e garupa,
Flor e fruto, descendência.
Há tempos que anuncio teu sorriso
Entre cálidas auroras
No semblante florescido dos jardins que tem lá fora
Renasço sempre em teus braços
Volto a morrer num abraço
Veja só o que o amor nos fez
Teu olhar me denuncia,
Que pena clareou o dia
Pra ser saudade outra vez...
Pra ser saudade outra vez...
Pra ser saudade outra vez...
Há tempos que este rancho anda tristonho,
Sem teus passos na varanda
E te espia na janela
Sem saber por onde andas.
Há tempos que te busco em cada sonho,
Em cada beijo, morena
Vou morrer te esperando
Porque sei que vale a pena!


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Amar é mais do que escrevi...♫

Lisandro Amaral



De nada adianta eu te encontrar no olhar das flores
De nada vale eu relembrar o quanto amei
Se nada sou eu, e frente a ti que iguala a flores
Eu sou espinho e do amanhã eu nada sei
De que me adianta olhar pra tudo que sonhamos
E em cada sonho achar o agora que escrevi
Plantei verões por ti, e hoje eu sou inverno amanhecido
Entre os silêncios mais gelados que colhi
De nada adianta o meu cantar
E mil canções que fiz por ti
Amar é mais - bem mais
Que estar presente aqui
Só resta agora caminhar
E lamentar o que colhi
Amar é mais - é muito mais
Do que escrevi

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

As Chagas da Escravidão

Danilo Kuhn

Foi numa manhã de agosto,
a geada trincava o pasto
e o negro apertava o passo,
sumia na cerração...

E, consigo, os pés descalços...
Junto às correntes de aço
levava, no seu encalço,
as chagas da escravidão.

A manhã, na Casa Grande,
despertava espanto e alarde
e os de coração covarde
davam início à caçada.

Foge o negro, o animal...
Tratavam-no como tal.
- Nasce pra ser serviçal,
não tem alma, não tem nada.

Na verdade, estratagema!
O branco que impunha algemas,
sem ter pudor nem ter pena,
ante o escravo era inferior.

Pois aquele que escraviza
que não tem alma... a precisa!
Não vale o chão onde pisa!
Não honra ao nome Senhor...

... E o Senhor da Sesmaria
de crueldade sorria,
pois até o fim do dia
teria sangue nas mãos...

“Se dentro das minhas terras
algum negro se desgarra,
trago de volta na marra,
sob severa punição”!

E, de fato, era um açoite...
Por três dias e três noites,
ferro quente e chicote
e intermináveis torturas...



E, mais cedo ou mais tarde,
dependendo de sua sorte,
encontrava-se co´a morte
a sofrida criatura.

E o negro bem sabia
da soberba e tirania
do Senhor da Sesmaria,
da monarquia em seu trono.

Num ato de valentia
deu-se a própria alforria,
naquela manhã tão fria
quanto à alma do seu dono.

Escafedeu-se o vassalo
e nenhum branco a cavalo
jamais conseguiu achá-lo
na imensidão da pampa...

Dizem que, lá no rincão,
os puros de coração,
em manhãs de cerração,
inda vêem sua estampa...

Quanto à velha Sesmaria,
da soberba e tirania,
hoje é terra e moradia
pros descendentes de escravos.

E à família do Senhor,
por semear tanto horror,
não sobrou nenhum valor...
Do passado são escravos!