Eu quiz buscar-me na infância E me encontrei bem assim: Uma menina-criança Alegre, cheia de sonhos, Fugindo sempre de mim!
Fui recriar minhas bonecas Do mesmo lençol encardido, Sobra de trastes e trapos Que minha mãe largou a esmo E, tal qual na minha infância, Pari de pano a criança E fui parteira de mim mesmo!
Mas a bruxinha de rendas, Costurada com carinho, Não quis aceitar-me mãe E atirou-se dos meus braços Na hora da brincadeira Pois, embora sendo pano, Tinha consciência do engano De eu ser a mãe verdadeira!
Numa manhã primavera Risquei de giz a calçada Na mesma rua encantada Em que a menina desenhava Seus paralelos de linhas! Seis quadrados sobrepostos, Céu e inferno como opostos, No jogo da amarelinha!
E a minha alma criança Pulou com pernas de moça As etapas numeradas Desse jogo quase eterno. Mas... Nessa adulta amarelinha A pedra do céu que eu tinha Teimava em cair no inferno!
Brinquei de roda e peteca, De pega-pega e boneca Num jardim imaginário Dos meus sonhos de verão. Senti a brisa nas tranças Também que pulsava infância Nas veias do coração!
Porém todos meus brinquedos, Agora com mais segredos, Transformaram-se irreais Quais contos da carochinha E, embora todos presentes, Vi, sem graça, de repente, De que eu brincava sozinha!
Busquei por príncipes valentes Em seus cavalos de fogo... Por sapos que, nos meus beijos, Poderiam virar gente... Sapatinhos de cristal... Fui anões... Branca de neve Da maçã envenenada... E... Recriei na minha memória As mesmas lindas estórias E os mesmos contos de fadas!
Mas nada passou de busca, Porque mais nada encontrei... Aquela criança linda Que eu pensei rever ainda De mãos dadas com os pais, Ficou em um tempo qualquer Quando explodiu uma mulher No corpo dessa menina Que hoje não existe mais!
Então... Fui buscar-me no futuro E me encontrei bem assim: Mulher perdida no escuro Sem rumo... Despreparada... Mas... Procurando por mim! |
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