segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Poema


Busca de mim
Autor: José Luiz Flores Moró

Eu quiz buscar-me na infância
E me encontrei bem assim:
Uma menina-criança
Alegre, cheia de sonhos,
Fugindo sempre de mim!

Fui recriar minhas bonecas
Do mesmo lençol encardido,
Sobra de trastes e trapos
Que minha mãe largou a esmo
E, tal qual na minha infância,
Pari de pano a criança
E fui parteira de mim mesmo!

Mas a bruxinha de rendas,
Costurada com carinho,
Não quis aceitar-me mãe
E atirou-se dos meus braços
Na hora da brincadeira
Pois, embora sendo pano,
Tinha consciência do engano
De eu ser a mãe verdadeira!

Numa manhã primavera
Risquei de giz a calçada
Na mesma rua encantada
Em que a menina desenhava
Seus paralelos de linhas!
Seis quadrados sobrepostos,
Céu e inferno como opostos,
No jogo da amarelinha!

E a minha alma criança
Pulou com pernas de moça
As etapas numeradas
Desse jogo quase eterno.
Mas... Nessa adulta amarelinha
A pedra do céu que eu tinha
Teimava em cair no inferno!

Brinquei de roda e peteca,
De pega-pega e boneca
Num jardim imaginário
Dos meus sonhos de verão.
Senti a brisa nas tranças
Também que pulsava infância
Nas veias do coração!

Porém todos meus brinquedos,
Agora com mais segredos,
Transformaram-se irreais
Quais contos da carochinha
E, embora todos presentes,
Vi, sem graça, de repente,
De que eu brincava sozinha!

Busquei por príncipes valentes
Em seus cavalos de fogo...
Por sapos que, nos meus beijos,
Poderiam virar gente...
Sapatinhos de cristal...
Fui anões... Branca de neve
Da maçã envenenada...
E... Recriei na minha memória
As mesmas lindas estórias
E os mesmos contos de fadas!

Mas nada passou de busca,
Porque mais nada encontrei...
Aquela criança linda
Que eu pensei rever ainda
De mãos dadas com os pais,
Ficou em um tempo qualquer
Quando explodiu uma mulher
No corpo dessa menina
Que hoje não existe mais!

Então...
Fui buscar-me no futuro
E me encontrei bem assim:
Mulher perdida no escuro
Sem rumo... Despreparada...
Mas... Procurando por mim!

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